Nota introdutória
DOI:
https://doi.org/10.58041/aprender.270Resumo
Este é o número 50 da revista Aprender que assinalamos, com orgulho, numa nota introdutória um pouco mais alongada, buscando um pouco da história da Aprender. Fazemo-lo a partir de um conjunto de evidências associadas à sua história e aos “escritos” científicos, no âmbito da História da Educação, produzidos sobre a revista que ora dirigimos, mas que foi criada em 1987, por um conjunto de professores da então Escola Superior de Educação de Portalegre, hoje Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Portalegre.
Revisitando a obra de Hernández Diaz (2013), a propósito da importancia de revistas desta natureza, sublimamos, como o autor, que “la prensa, las publicaciones periódicas (...) se convierten en un fenómeno de masas desde la Ilustración hasta nosotros, y lhegan a convertirse en una de las señas de identidad, de influencia, y en necessidad cotidiana para los ciudadanos de nuestras sociedades contemporáneas” (p. 11).
Em concreto, e na trajetória da revista Aprender, o seu primeiro diretor, Rui Canário, expressou no Editorial do n.º 1 (1987) que o periódico era uma construção coletiva e ao serviço de uma estratégia de mudança que respondia a três tendências: a) a educação permanente a presidir a lógica de organização do sistema educativo (relativização da importância da educação escolar); b) a inovação permanente como estratégia de transformação do próprio sistema educativo (investindo no envolvimento dos diferentes atores locais); c) o redimensionamento à escala comunitária das instituições escolares e não escolares (numa perspetiva de polivalência e de integração das suas funções sociais). Canário expressava ainda que o “objetivo não é o de criar uma revista de educação que se vá alimentando de artigos que alguns rebuscam no fundo da gaveta ou que laboriosamente produzem na mira de “enriquecer” o seu currículo pessoal” (Canário, 1987, p. 1).
Como afirmado por Henriques, Marchão e Mourato (2015), num estudo sobre o Instituto Politécnico de Portalegre e a sua importância na democratização do ensino superior, a Aprender “haveria de servir como ponto de reflexão sobre assuntos diversos, desde a importância da formação de professores, às questões didáticas e pedagógicas ou à atividade cultural desenvolvida pela Escola e pelos seus docentes” (Henriques, Marchão & Mourato, 2015, p. 186) e também, como afirmado pelo seu primeiro diretor, “refletir a ambição de transformar o ensino superior num elemento promotor de desenvolvimento económico e social (Canário, 1987) e que deveria contribuir para o debate de ideias, para a troca de experiências e como incentivo à investigação” (Marchão, et al., 2022, p. 422).
A Aprender assumiu tamanha importância no panorama português que, em 1993, levou António Nóvoa a integrá-la na obra A Imprensa de Educação e Ensino. Repertório Analítico (séculos XIX e XX), na ficha n.º 37, enunciando que o seu principal foco era a formação de professores e que o seu “cariz formativo e vulgarizador, [apostava] na qualidade e inovação, enquanto ideias directoras da mudança na prática pedagógica” (Nóvoa, 1993, p. 62), o que resultava do diálogo em tríade (formadores, formandos e agentes educativos) “dos níveis pré-universitários, expresso no estatutos dos colaboradores, mas, sobretudo, na interacção entre o discurso teórico e a experiência educativa” (Nóvoa, 1993, p. 62), além do enquadramento regional e qualidade gráfica.
Nóvoa (1993) destacou ainda os núcleos temáticos principais da revista, correspondendo o mais importante à “formação (inicial e contínua) dos professores” (p. 62), “artigos de análise da importância das várias componentes de formação científica em ciências da educação”, “análises e propostas relativas ao papel educativo e sociocultural das Escolas Superiores de Educação, nomeadamente no contexto regional” (p. 63).
Além desses núcleos, o autor identificou também um núcleo secundário que se traduz na abordagem de problemas educativos mais específicos (métodos de ensino, administração escolar, psicopedagogia e a didática aplicadas, desenvolvimento curricular, bem como “ciências auxiliares” dos fenómenos educativos (Sociologia e Comunicação), a “política educativa e a reforma do sistema educativo”, “a avaliação, o (in)sucesso escolar e a interacção entre a escola, os professores e os pais” e “as atividades extracurriculares (feiras do livro, jornais escolares, etc.) e, esporadicamente a educação pré-escolar, a animação cultural e a cooperação universitária” (Nóvoa, 1993, p. 63). O autor referia também que estes dois núcleos se complementavam com textos que evidenciam a relação da Escola com a região.
Ainda num estudo mais particularizado sobre a revista Aprender, neste caso sobre os artigos alusivos à educação de infância publicados na mesma revista, Henriques e Marchão (2018, p. 261) afirmam que “a vida da revista Aprender pode ser dividida em três grandes ciclos: o sonho (1.ª fase, 1987-1991); a revitalização (2.ª fase, 1993-1994) e a “reinvenção/atualização” (3.ª fase, 1998- presente). No entender dos autores,
O primeiro ciclo corresponde ao impulso inicial, em que o desejo de transformação estava muito presente, sobretudo nas palavras do diretor Rui Canário e de muitos outros docentes que contribuíram para a Aprender. O segundo ciclo, sob a direção de Mário Ceia, apresenta-se, em nosso entender, como um momento de transição, chegando Fortunato Queirós, então Presidente do Instituto Politécnico de Portalegre, a afirmar que “vim encontrar a revista Aprender em estado de coma” (Queirós, 1993, p. 4). Este momento de transição é antecedido pela publicação de um número isolado, ainda no ano de 1991, sob a direção de José Casanova Travassos. No terceiro ciclo, depois de alguns momentos conturbados, Abílio Amiguinho assumiu a direção da revista (de 1998 até ao presente[[1]]) e nela passamos a encontrar, além de alguns textos na linha da matriz inicial da instituição – a formação de professores, um conjunto de mudanças que se traduzem na própria revista e se prendem com a emergência de outras áreas que, entretanto, a escola[[2]] passou a assumir na sua oferta formativa – Turismo, Jornalismo e Comunicação, Animação Educativa e Socio Cultural, Serviço Social entre outros. (Henriques & Marchão, 2018, p. 261)
Este último período (a partir de 1998) corresponde a uma matriz editorial que vai além da inicial, diversificando-se as publicações em alinhamento com a oferta formativa da instituição de ensino superior sua proprietária e em função dos muitos desafios sociais, culturais, pedagógicos e científicos que foram emergindo nacional e internacionalmente.
Também, pensando na ciência, na investigação e na disseminação do conhecimento, a Aprender passou a formato digital em junho de 2012[3], em acesso aberto e sem custos para autores, pretendendo, desse modo afirmar a sua identidade regional, nacional e internacional. Alojada no software Open Journal Systems (OJS), opera através de uma política de preservação e arquivamento, sendo o conteúdo da revista hoje preservado através do PKP (PKP PN).
No que se refere à evolução do seu estatuto editorial, a revista Aprender tem vindo a prosseguir com objetivos que, na atualidade, destacam: (i) a publicação de trabalhos de natureza científica e de investigação, tendo em vista a circulação do saber científico e o debate de ideias sobre as realidades educativas e formativas, sociais e culturais, nos domínios da formação, investigação e intervenção; (ii) o incentivo à produção e disseminação de trabalhos de investigação científica e de áreas de intervenção nos vários domínios de atuação da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Portalegre; (iii) a possibilidade de criar intercâmbios científicos e formativos entre docentes e outros profissionais da região, nacionais e internacionais; (iv) a criação de um espaço de publicação para docentes, investigadores e estudantes[4].
Apostando num sistema de revisão por pares, duplamente cego, a revista conta na atualidade com uma Comissão Científica internacional, composta por especialistas de reconhecido mérito associados às áreas de publicação científica (Ciências da Educação Ciências Sociais) e às suas linhas principais:
- Educação (educação básica, secundária e superior; educação social, educação para…);
- Formação de profissionais (educação básica, secundária e superior; educação social; serviço social; jornalismo e comunicação; turismo);
- Problemáticas multidisciplinares.
Neste contexto, o número 50, com o tema central Fundamentos e perspetivas: Avaliar a importância da educação socioemocional em contexto escolar, possibilita-nos a continuidade das leituras e reflexões que, desde o seu início, a Aprender nos propiciou, destacando-se no presente número a importância da educação socioemocional para o desenvolvimento das crianças e jovens e para o sucesso na transição para a vida adulta.
Fica a disseminação do conhecimento em acesso aberto, o convite à leitura e um agradecimento aos editores convidados que, primorosamente, organizaram o número.
A Direção da Aprender,
Amélia Marchão
Maria José D. Martins
[1] Abílio Amiguinho foi diretor da revista Aprender até ao final do ano de 2021.
[2] Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Portalegre, proprietária da revista.
[3] Todavia, todos os seus números estão disponíveis online.
[4] http://aprender.esep.pt/index.php/aprender/estatuto
Referências
Canário, R. (1987). Editorial. Aprender, 1, 1 http://aprender.esep.pt/index.php/aprender/issue/view/1
Henriques, H., & Marchão, A. (2018). Pensar a educação de infância através da revista Aprender". In R. P. Lopes, et al., (Eds.) III Encontro Internacional de Formação na Docência (INCTE): livro de atas, (258-266). Instituto Politécnico de Bragança. http://hdl.handle.net/10198/17381
Henriques, H., Marchão, A., & Mourato, J. (2015). Democracy and the Portuguese polytechnic education. The case of the Polytechnic Institute of Portalegre (80s of the XX century). Espacio, Tiempo y Educación, 2(2), 173-196. http://dx.doi.org/10.14516/ete.2015.002.002.009
Hernández Díaz, J. M. (Org.) (2013). Prensa pedagógica y patrimonio histórico educativo. Ediciones Universidad de Salamanca.
Marchão, A., Carvalho, L., Bonifácio, E., Nieto Ratero, A., & Rebola, F. (2022). As mensagens pedagógicas da Revista Aprender (ano de 1989). In J. M. Hernández Díaz (Coord.) La prensa pedagógica de las confesiones religiosas y asociaciones filosóficas, (419-430). Ediciones Universidad de Salamanca. https://doi.org/10.14201/0AQ0333
Nóvoa, A. (Dir.). (1993). A imprensa de educação e ensino. Repertório analítico (séculos XIX e XX). Instituto de Inovação Educacional.
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