Editorial

Autores

DOI:

https://doi.org/10.58041/aprender.269

Palavras-chave:

Educação, Educação socioemocional

Resumo

A escola tem, tradicionalmente, enfatizado o desenvolvimento e a aprendizagem das dimensões cognitivas nos alunos.  No entanto as exigências da sociedade contemporânea e a investigação científica têm evidenciado a pertinência de articular a promoção da dimensão cognitiva com a promoção de competências socioemocionais, na medida em que estas parecem contribuir para melhorar os ambientes de aprendizagem, fomentar a coesão social, focar a atenção nas tarefas, e contribuir assim para o sucesso educativo, social e profissional.

Dado que é função da escola formar alunos autónomos, responsáveis e cidadãos ativos, desenvolver as competências socioemocionais em meio escolar possibilita a criação de um quadro de referência que assente numa consciência individual e coletiva. Deste modo, é fundamental promovê-las nos alunos, contribuindo para o seu desenvolvimento integral, ajudando-os a enfrentar de modo eficaz os desafios do quotidiano e do futuro, e a prosperar tanto no contexto escolar como na vida pessoal e social.

Assim, o objetivo principal deste número foi reunir estudos que explorem e avaliem a relevância da educação socioemocional no contexto educativo. Sabendo-se que desenvolver competências socioemocionais, através da educação, não é apenas importante, mas também uma exigência cada vez mais necessária perante os desafios contemporâneos, estudos teóricos e empíricos integraram este número da revista Aprender.

Com o tema “Fundamentos e perspetivas: Avaliar a importância da educação socioemocional em contexto escolar”, o número 50 da revista Aprender teve como foco a educação socioemocional. Este número convidou à submissão de estudos teóricos e empíricos, que analisam e consideram as teorias, as relações com outras variáveis, e a avaliação de programas que promovam as competências socioemocionais, desde a infância até à idade adulta.

No primeiro artigo, Teresa Martins Matos, com o estudo “Do cognitivo ao emocional: A educação socioemocional nas escolas portuguesas”, analisa o percurso da aprendizagem socioemocional em Portugal entre 2017 e 2025, através de uma revisão sistemática da literatura. Os resultados destacam os impactos positivos da educação socioemocional em domínios como a autorregulação emocional, a autoestima, a empatia e as competências relacionais. No entanto, também se destaca que persistem desafios estruturais, como a escassez da formação específica dos professores neste domínio. A discussão do estudo articula os resultados obtidos aos principais modelos teóricos, destacando o potencial transformador da educação socioemocional quando integrada de forma sistémica e participativa.

Com o objetivo de analisar como a liderança escolar contribui para o desenvolvimento de competências socioemocionais nos alunos no contexto escolar, cada vez mais marcado por desafios emocionais, organizacionais, e pedagógicos Ana Maria Cristóvão, Sabina Valente e Hugo Rebelo, através do artigo “O papel da liderança escolar na promoção de competências socioemocionais: Evidências de um estudo bibliométrico” desenvolvido com base em estudos  identificados nas plataformas Google Scholar, Scopus e Web of Science concluem que as lideranças escolares são determinantes para a integração sustentável da aprendizagem socioemocional e que é importante repensar a formação de líderes, incorporando competências socioemocionais e políticas de apoio que consolidem ambientes educativos promotores do bem-estar e do sucesso dos alunos.

No artigo “Elementos cognitivos e emocionais no processo de ensino e aprendizagem: Pensar, sentir e agir”, Eugênio Solino, Plauto Carvalho e Sabrina Miranda, partindo de uma análise documental, apresentam o resultado do estudo que teve por objetivo relacionar diferentes bases teóricas para a elaboração de um alicerce que possibilite a articulação dos aspetos cognitivos e emocionais no processo de ensino e aprendizagem. Concluem que a valorização da autonomia do aluno, com foco na criação de um ambiente educativo que promova aceitação, empatia e liberdade para explorar, reconhecendo que a aprendizagem mais eficaz ocorre quando os alunos são respeitados nas suas singularidades e que o processo de aprendizagem ocorre nas interações com o outro, sendo a emoção o pilar dessas interações.

No quarto artigo, “O papel da mediação de pares na gestão de conflitos em contexto escolar”, Iara Correia e Regina Alves avaliaram o impacto de uma formação em mediação de pares nas atitudes e comportamentos dos alunos mediadores numa Escola Básica de 2.º e 3.º ciclos, situada no Norte de Portugal. A formação em mediação de pares foi composta por oito sessões de aproximadamente 60 minutos e, no âmbito da avaliação, foi possível compreender a evolução das atitudes e comportamentos dos alunos-mediadores na sua atuação no contexto escolar. Os resultados mostraram que os alunos-mediadores adquiriram conhecimentos e competências na área da mediação, especificamente acerca do processo, dos princípios e do papel de um mediador em contexto escolar, bem como melhorias autorrelatadas na atuação em situações de conflito.

O artigo, da autoria de Ana Salomé de Jesus e Luísa Carvalho, “Sentir@Ser – Programa de competências socioemocionais num agrupamento de escolas” apresenta o formato de relato de uma experiência e apresenta o programa Sentir@Ser implementado num Agrupamento de Escolas do Alto Alentejo. O programa tem por objetivo promover competências socioemocionais, recorrendo a práticas de mindfulness, destinado a alunos da educação pré-escolar até ao 9.º ano de escolaridade, abrangendo também pessoal docente e não docente. Inclui um conjunto diversificado de projetos e atividades desenhados de acordo com os destinatários e os objetivos específicos definidos. Conclui-se que a sua implementação apresenta resultados bastante positivos no nível do desenvolvimento pessoal e social, bem como do bem-estar emocional.

O último artigo, “Programa de competências sociais e o seu impacto em adultos com incapacidade intelectual”, de Maria da Glória Franco, Ana Isabel Garcês e Teresa Maio, avaliou o impacto de um programa concebido e aplicado a adultos com incapacidade intelectual ligeira ou moderada. Recorrendo a um plano quasi-experimental, aplicou-se, no pré-teste e no pós-teste, o Questionário de habilidades de interação social. Participaram 16 mulheres, com idades entre 20 e 37 anos, distribuídas equitativamente entre um grupo experimental e um grupo de controlo. O programa aplicado ao grupo experimental incidiu nas competências de conversação, assertividade, resolução de problemas e competências sociais básicas. Os resultados indicam um aumento significativo das competências sociais totais, bem como melhorias específicas em conversação, resolução de problemas e competências sociais básicas. Apesar de não serem generalizáveis, os resultados permitem concluir que o efeito do programa é elevado.

Fica o convite à leitura, incentivando a reflexão sobre os resultados apresentados nestes estudos, que destacam a importância das competências socioemocionais na formação integral, desde a infância até à idade adulta.

 

Sabina Valente | Abílio Afonso Lourenço | Maria José Martins

Biografias do Autor

  • Sabina Valente, Instituto Politécnico de Portalegre

    Instituto Politécnico de Portalegre, CARE - Centro de Investigação em Saúde e Ciências Sociais.

  • Abílio Afonso Lourenço, Universidade do Minho

    Instituto de Educação, Universidade do Minho.

  • Maria José Martins, Instituto Politécnico de Portalegre

    Instituto Politécnico de Portalegre, CARE - Centro de Investigação em Saúde e Ciências Sociais. 

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Publicado

23-12-2025

Edição

Secção

Editorial

Como Citar

Valente, S., Lourenço, A. A. ., & Martins, M. J. (2025). Editorial. Aprender, 50, 10-12. https://doi.org/10.58041/aprender.269