Editorial
DOI:
https://doi.org/10.58041/aprender.250Palavras-chave:
EditorialResumo
Vida, Património e Territorialidades pretendeu ser um espaço de partilha de olhares, reflexões, pesquisas, estudos de caso, ensaios ou recensões com a comunidade de leitores da revista.
O território é uma tela onde se cruzam uma multiplicidade de perspetivas sobre os mais diversos conteúdos. Os modos de vida das populações, a sua cultura, o património construído, material ou imaterial, o natural e as transformações causadas pelas diversas atividades humanas, que nele ocorrem são áreas de pesquisa de muitos investigadores e profissionais. Quisemos que a multiplicidade de abordagens às “vidas”, aos “patrimónios” e a várias “territorialidades” expressassem a diversidade de pontos de vista, de reflexões sobre formas de encarar realidades.
A APRENDER tem na sua matriz a Educação, refletindo a realidade da sua casa de origem, a Escola Superior de Educação e Ciências Sociais de Portalegre, mas esteve sempre aberta a todos os olhares, novas áreas de investigação e realidades que se iam construindo, de acordo com os cursos que a ESECS foi integrando. Este número conta com vários contributos que resultam em dois grandes territórios de intervenção: realidades educativas e olhares biogeográficos.
Pedro Fernandes apresenta uma proposta da utilização didática do cinema, para problematizar, em contexto de sala de aula, a relação Homem/máquina e os problemas éticos sobre a utilização da inteligência artificial. Partindo de filmes, ou excertos dos mesmos, pretende refletir com os estudantes os limites e potencialidades desta ferramenta, disponível em todas as plataformas digitais e em múltiplos chatbots.
David Porrinas González, Enrique Eugenio Ruiz Labrador e Mario Corrales-Serrano fazem a combinação, aparentemente improvável, de iconografia medieval, TIC e Educação Primária (1.º Ciclo do Ensino básico). Através de análise de iconografia medieval, acessível a partir de um Qr Code, orienta os alunos numa viagem que cruza práticas do quotidiano da Idade Média com os ODS, conseguindo introduzir conceitos complexos e alinhando-os com as necessidades de práticas sustentáveis e à escala Humana.
Sérgio Claudino, um nome incontornável na Geografia de Portugal, apresenta um projeto de sucesso na educação para a cidadania e participação cívica com o projeto “Nós Propomos. Pequenos grandes cidadãos”. Esta ideia, que combina conhecimento geográfico com o exercício de uma cidadania ativa, já criou raízes de norte a sul do país e internacionalizou-se, essencialmente na América Latina. A partir de uma ideia simples, cumpre-se o ODS 4 (Educação de qualidade).
Arthur Vianna Ferreira e Maria Raquel Ribeiro Costa da Cunha Ferreira traduzem-nos a linguagem da escola. Uma viagem a um território de exclusão social, onde, através de uma prática pedagógica diferente da escola “tradicional e baseada na alteridade e empatia, as “explicadoras” conseguem integrar crianças no mundo educativo. Esta análise, com o foco na Pedagogia Social e na Teoria das Representações Sociais (particularizando uma pedagogia da hospitalidade) apresenta um olhar sobre o papel de uma escola “paralela” de rosto Humano.
A educação de qualidade passa essencialmente por estarmos despertos para os direitos de todos e de cada um e na liberdade de nos podermos expressar e aprender, independentemente de credo, raça, sexo ou orientação sexual.
Cristiane Prudenciano de Souza apresenta uma breve reflexão sobre a Educação para a inclusão, com a construção de ligações que extravasam os limites da escola, problematizando e discutindo estereótipos de géneros e sexualidade. É proposto um conceito de território Educativo por oposição ao modelo Panótico de Foucault.
A Geografia é a ciência da paisagem; porém, a maior parte de nós olha para o horizonte e esquece a observação na vertical. Lembrando a dimensão vertical do olhar, Adriano Duarte Dalmolin e Marcos A. Torres apresentam o “céu como espaço vivido”. Num texto com uma abordagem baseada na Geografia Humanista e Cultural, tendo como figura guia YI-Fu Tuan, os autores escrevem um texto, quase poético, incluindo o céu como parte da realidade concreta do quotidiano, através de testemunhos obtidos a partir da participação de um conjunto de indivíduos desafiado a tirar uma fotografia ao céu e expressar o significado do observado e da experiência de um olhar para algo sempre presente, mas muitas vezes esquecido.
Jorge Luís Oliveira-Costa, com dois colegas, leva-nos a uma viagem fitogeográfica até Erechin, cidade do Estado de Rio Grande do Sul no Brasil. Numa primeira abordagem, com Stephen Orlly Orelus, desenvolvem um estudo de cartografia geoecológica da paisagem da referida cidade. Partem de uma abordagem sistémica, sustentada quer por Tricart, quer por Sochova, para construir um mapeamento em Unidades Ambientais, baseando-se em processos geoecológicos específicos, chamando a atenção para a fragilidade destas áreas face ao desenvolvimento de atividades humanas, que põem em causa a sustentabilidade ambiental e, a longo prazo, a própria existência das comunidades aí existentes.
Dulcimar Graboski e Oliveira-Costa apresentam um modelo de gestão e planeamento da paisagem que proteja o domínio das Araucárias. A atividade humana baseada na agopastorícia intensiva põe em causa o espaço vital desta espécie confinada a uma parcela de território cada vez menor, pondo em perigo o equilíbrio ecológico da espécie e do ecossistema natural da região.
No final, Fátima Velez de Castro lembra a importância da dimensão local da cultura popular como parte de um processo educativo integrado e multifacetado. Através de uma breve recensão sobre “O Camponês que eu sou”, de António Cachapim, ensina de forma poética a olhar a paisagem, compreendendo, a partir dela, as vivências e as práticas das comunidades, abrindo possibilidades de utilizações didático-pedagógicas destes testemunhos de base local.
O número 49 da Aprender encerra com uma entrevista a um amigo de Portugal e de Portalegre. Linas Daubaras, lituano, professor universitário, com uma carreira muito ligado ao Turismo e à Natureza, fala-nos de uma outra dimensão do território natural, relacionando-o com as terapias naturais. Ao longo do seu testemunho, traça as ligações entre a medicina, terapia e turismo. No norte da Europa, este tipo de práticas está cada vez mais difundido, levando, por um lado, à preservação dos espaços naturais e, por outro, à melhoria da qualidade de vida e da saúde geral das populações. Cientes desta nova tendência, os operadores turísticos começam a explorar esta opção como novo nicho de mercado, o que concomitantemente impulsiona e credibiliza a terapia pela natureza.
Boas leituras.
Miguel Castro | Fátima Velez de Castro
Ficheiros Adicionais
Publicado
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2025 Miguel Castro, Fátima Velez de Castro

Este trabalho encontra-se publicado com a Licença Internacional Creative Commons Atribuição 4.0.

